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Porto de Piedade

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Postos de saúde em Magé tinham até cabeleireiro na folha de pagamento

Marcos Nunes Foto: Cléber Júnior / Extra


Marcos Nunes - Extra
Com a missão de levar assistência médica para a população carente, o Programa de Saúde da Família (PSF), criado pelo governo federal e custeado em parceria com as prefeituras, também fazia literalmente a cabeça de homens, mulheres e crianças do município de Magé, na Baixada Fluminense.
Nesta terça-feira, o prefeito Nestor Vidal (PMDB) denunciou que verbas públicas estavam sendo utilizadas para pagar profissionais fora da área de saúde como, por exemplo, cabeleireiros. A fraude foi descoberta através de um levantamento feito pela Secretaria municipal de Saúde. O prefeito tomou posse no cargo no último dia 10, substituindo Dinho Cozzolino.
Remunerados com verbas do programa, com salários em torno de R$ 607, sete profissionais da tesoura cortavam gratuitamente os cabelos de clientes dentro dos PSFs. Eles não eram os únicos ocupantes de cargos que não pertenciam à área de saúde a aparecer na folha de pagamento das unidades.
Também trabalhavam nos postos, entre outros, um agente de obras públicas, 12 auxiliares de serviços específicos, um auxiliar de serviços diversos e até um ciclista. Todos recebiam vencimentos em torno de R$ 607.
Na edição de terça-feira, o EXTRA já havia publicado que a Secretaria de Saúde da cidade havia descoberto 124 cargos irregulares no programa, ocupados por motoboys e coordenadores de unidades de PSF. Avó de 12 netos, uma cabeleireira, de 63 anos, era uma das profissionais que percorriam postos de PSF para cortar cabelos. Ela contou que trabalhava na prefeitura desde 2005 e que costumava percorrer diariamente PSFs das localidades de Jardim Nazareno, Humaitá, Novo Horizonte e Caçula. Em média, atendia 34 pessoas.
— Trabalhava das 8h às 17h, com uma hora de almoço. Os clientes gostavam de mim, tanto que tenho nomes e telefones deles. Dependo desse dinheiro que recebo para viver e havia apanhado um empréstimo consignado. Levei um choque ao saber que não poderia mais trabalhar — lamentou a cabeleireira.
Além da descoberta de cargos impróprios, o levantamento trouxe à tona outra irregularidade. De acordo com a Secretaria de Saúde, sete PSFs estão funcionando dentro de colégios municipais. Segundo um dos coordenadores do Programa de Saúde da Família e Atenção Básica, Filipe Velasques, para não existir riscos, assim que for possível, as unidades serão transferidas.
— PSF funcionando em escola é totalmente irregular. Isso não é adequado. Pode haver risco de contaminação por doenças como tuberculose, sarampo ou catapora, por exemplo — disse

Um dos postos que serão transferidos funciona no bairro Parque Santana, com a parede geminada à da escola Benedito Além Cozzolino. A unidade, onde estudam 1.180 alunos, perdeu a sala da diretoria e a secretaria, transformadas em PSF.
Procurado pelo EXTRA, o presidente da Câmara Municipal e ex-prefeito interino Dinho Cozzolino rebateu as acusações. Ele disse que motoboys foram contratados para agilizar o transporte de exames entre os PSFs e os hospitais. Dinho negou que haja risco para crianças.
—Em vez de falar sobre contratação irregular, que já foi motivo de uma investigação que gerou um Termo de Ajuste de Conduta, o governo tem é que verificar por que está faltando merenda nas escolas — criticou.
A prefeitura nega a falta de merenda.

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