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sábado, 30 de julho de 2011

Ex-prefeita Núbia Cozzolino protagoniza cenas dignas do personagem da novela O Bem Amado!!

Chico Otavio - O GLOBO
Magé não é Sucupira, a fictícia cidadezinha baiana da novela, nem a sua pracinha central é um set de filmagem. Porém, as cenas diárias que ali se passam fariam inveja ao autor do sucesso de TV. Se Magé não tem Odorico e as irmãs Cajazeiras, basta-se com a família Cozzolino. No folhetim protagonizado pelo clã liderado por Núbia, a única diferença para a ficção é que não há intervalo para os comerciais.
A última cena aconteceu no início do mês. Enquanto a população acompanhava a montagem do palanque de carnaval, a portaria 038/2001 anunciava a nomeação de Núbia pelo próprio irmão, o prefeito em exercício Anderson Cozzolino, o Dinho, para o cargo de assessora parlamentar do gabinete. Na prática, ele formalizou aquilo que todos já sabiam: mesmo afastada desde setembro de 2009, a ex-prefeita nunca deixou o poder. Apesar das três dezenas de processos em que figura como ré, verdadeiro tour pelos códigos penal e civil, ela ainda é a voz de comando nesta Sucupira fluminense, ao pé da Serra dos Órgãos.
É bem verdade que a volta de Núbia foi discreta, sem as "exorbitâncias e extrapolâncias" de Odorico, mas, para quem ainda duvida da força dramática da personagem, seguem aqui algumas cenas:
Cena 1: Para fugir de notificações judiciais, Núbia costuma sair da prefeitura dentro de ambulâncias.
Cena 2: Para provar a suposta inocência diante de um repórter de TV, deu a entrevista com documentos colados no próprio rosto.
Cena 3: Barrado pela Justiça Eleitoral, um programa de funerais gratuitos da Prefeitura distribuía caixões infantis em troca de votos.
Cena 4: Ela criou uma gatonet com sinal da Sky e, no meio do "Jornal Nacional", inseria um bloco de reportagens a seu respeito.
Cena 5: Quando a irmã, Jane, foi cassada, sobrevoou a casa do deputado Paulo Mello, que atuara a favor da punição, para fotografar suposto enriquecimento ilícito.
Isolados, os episódios seriam, como diria Guimarães Rosa, "tese para alto rir". Mas a dinastia Cozzolino, iniciada com o chefe do clã, Renato, eleito prefeito em 1982, tem o seu lado amargo. Para além do folclore político, a família também ficou marcada por casos de corrupção, nepotismo e de violência. Em três décadas, foram três cassações, pelo menos duas prisões, volumosa quantidade de dinheiro desviada - não há um somatório disponível - e alguns assassinatos.
A lista de crimes ocorridos na era Cozzolino inclui um jornalista, Mário Coelho, e até um namorado de Núbia, Orney dos Santos.
- Como ocorre com outros municípios da Baixada, as castas se estabeleceram cacifadas pela política da execução sumária, que sempre foi bem aceita pelos eleitores. A população vê isso como uma grande solução - sustenta o sociólogo da UFRRJ José Claudio Souza Alves, autor de um livro sobre o assunto.
A última morte aconteceu em 29 de dezembro do ano passado, quando o comerciante Yacemir de Oliveira Fernandes, de 34 anos, foi vítima de uma emboscada em São Cristóvão, no Rio. Ele era peça-chave na investigação do Ministério Público Estadual sobre fraudes em contratos que somavam R$ 23 milhões de duas empresas com a prefeitura.
Yacemir procurara o MP um mês antes para denunciar que as duas firmas operavam em parceria com Anderson Cozzolino, na época presidente da Câmara Municipal.
Dois dias depois do crime, o então prefeito em exercício, Rozan Gomes, pediu licença por 120 dias, alegando problemas pessoais. Vice de Núbia, estava à frente da prefeitura desde a saída da titular, afastada sob acusação de formação de quadrilha e peculato por fraudes na folha de pagamento e em licitações.
Discreto, Rozan tentara dar ordem à casa em 15 meses de gestão. Ao chegar, a prefeitura funcionava a gerador, pois a luz estava cortada, alguns postos de saúde ocupavam casas alugadas em nome de servidores, os telefones também estavam cortados e não havia transparência nos processos de compras.
Ele foi mudando devagar. Porém, sempre com a preocupação de fugir do confronto com a família. Organizou processos, reformou a sede, pagou contas atrasadas, mas manteve os nomes das escolas, batizadas como Renato Cozzolino, Maria Thereza Cozzolino, Benito A. Cozzolino, Raphael Cozzolino Neto, Pergentina Cozzolino II, Antônio Cozzolino, entre muitos outros Cozzolinos.
Mesmo assim, Rozan sucumbiu às pressões. Sua saída abriu caminho para mais uma volta da família ao poder. Oficialmente, o prefeito Dinho nomeou dois parentes para as secretarias de Trabalho e de Fazenda, os primos Marcelle e José. Porém, é sabido na cidade que outras secretarias estratégicas foram loteadas entre os irmãos.
Jane, ex-deputada estadual cassada em 2008 por envolvimento com a fraude no auxílio-educação na Alerj, controlaria a Educação, enquanto Charles, cassado quando foi prefeito de Magé (1995) e preso em 2009, pelo uso de uma ONG para esquentar dinheiro desviado da prefeitura, ficaria com a pasta de Obras.
Nada, porém, faz sombra a Núbia, a autoridade máxima do clã. Há dois anos, após a morte do namorado, acuada por uma saraivada de denúncias do MP e debilitada por uma cirurgia de emergência para livrá-la de diverticulite, ela prometeu que escreveria o nome na História de Magé. Na cama do hospital, enquanto o soro gotejava em sua veia, ela vociferava para os adversários:
- Não levo desaforo para casa. Se tiver de brigar, eu brigo. Se tiver de bater, bato.
Só faltou Núbia atribuir as denúncias, como fazia Odorico, seu provável inspirador de Sucupira, à obra "da esquerda comunista, marronzista e badernent


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